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quinta-feira, 29 de março de 2012


Dom Feliciano
Gente da terra
Alvorino, a trajetória de um trabalhador

Alvorino com os filhos Ricardo e Lisiane
Janete Miritz

Alvorino Bergmann Miritz, 39 anos, natural do município de Chuvisca, veio para Dom Feliciano há 17 anos, logo após o casamento com Janete (41). Aqui, o casal encontrou seu lar e teve seus filhos – Lisiane- 14, e Ricardo- oito anos. Este agricultor tem sua história profundamente ligada à produção de tabaco. O avô Albino, hoje com 91 anos, foi um dos pioneiros, no início da década de 1950, a construir uma estufa de fumo. Presidente da Cooperativa Agrícola Centro-Sul - COOPACS, do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural e líder comunitário, Alvorino acredita que “a união no meio rural é a única saída para a continuidade e sucesso da agricultura familiar”. “A diversificação de culturas, alternativas a renda do tabaco, agregada à informação, se mostram fundamentais no fortalecimento das propriedades rurais”, diz.


Reportagem: Como era o cultivo da terra antigamente?
Alvorino Miritz: Até certo ponto tinha de tudo, mais para nosso consumo. As terras eram mal aproveitadas. Grandes extensões eram plantadas, mas colhíamos pouco. Predominava uma ideia de poupar em adubo e investimento. Hoje plantamos lavouras menores e colhemos muito mais. As pessoas se convenceram de que semente boa e cultivo adequado dá resultado. Se as terras estão fracas hoje, foi por descuido dos antigos. O fator número um para ter uma vida melhor no campo é terra de qualidade. Temos que melhorar muito nesse sentido.
A tua relação com as associações e ser uma liderança começou quando?
Depois que vim para Dom Feliciano. Aprendi muito com uma pessoa que hoje não está mais entre nós, o Romildo Maciejewski, que foi vereador aqui. Eu era vizinho dele, a única pessoa conhecida quando vim para cá. Ele se acidentou, e gente precisava de um novo líder. Naturalmente, fui assumindo essa liderança e comecei a crescer.
Tu julgas importante o agricultor participar de associações, cooperativas?
Tem gente afirmando categoricamente que a agricultura familiar está com os dias contados, que vai se tornar inviável. Só há um jeito de reverter isso: os pequenos crescerem juntos. Na cooperativa vivenciamos na prática. Por exemplo, a produção de pepinos, tão falada hoje aqui no município. Produzir sozinho seria inviável, não teria como transportar à indústria, não haveria orientação técnica. No momento em que vários agricultores engajam-se com o apoio da Prefeitura, EMATER, Secretaria de Desenvolvimento Rural e a COOPACS, dá certo. Os produtores estão achando viável e planejam a próxima safra. Temos que nos unir, em todos os sentidos. Compra, venda, produtos, serviços, tudo que fizermos em conjunto, o resultado aparece na prática.
Como tu vês a continuidade da cooperativa? Nesse contexto polêmico do tabaco, a questão até da dificuldade da produção de cigarros no país, com as restrições da ANVISA. A tendência é a cooperativa ficar mais fortalecida?
Tenho uma opinião formada sobre tabaco. Até acredito que esse ano vai ser melhor que o último, mas teremos queda, não vejo volta. O consumo baixa muito, e essas novas resoluções da ANVISA são uma dificuldade. A produção de alimento, ao contrário, precisa aumentar 70%.
Quais os programas intermediados pela COOPACS?
A cooperativa intermédia hoje PAA, Alimentação Escolar, produção de pepino, suco de uva. A gente distribui a cesta colonial do PAA para 398 famílias, casa de passagem e Projeto São Francisco que atende 51 crianças. A tendência para o próximo ano é dobrar o número de famílias, por isso precisamos dobrar a produção de alimentos. Se conseguirmos produzir o dobro de alimentos e distribuir, é bom para cooperativa, para o produtor, para as famílias que recebem produto de boa qualidade. Nosso objetivo é crescer, de ano a ano.
O número de agricultores buscando associar-se tem crescido?
Muitos agricultores procuram informações, se associam, o que é fundamental. Sempre com os mesmos não conseguiríamos nos desenvolver.
Qual tua expectativa, teu sonho, tanto na vida pessoal, para tua família, quanto para tua vida profissional?
Tenho que optar- Cooperativa e lavoura não consigo conciliar. Com o tabaco está decidido que vou parar, mas continuaremos plantando. Acredito numa maior aproximação entre Sindicato dos Produtores Rurais e COOPACS, já que visam os interesses dos produtores. Temos que nos fortalecer em todos os sentidos: produção e comercialização. Não basta produzirmos, temos que saber conduzir financeiramente uma propriedade.

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