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quarta-feira, 30 de maio de 2012


Gilmar Mendes diz que Lula sugeriu adiar julgamento do mensalão

Gilmar Mendes diz que Lula sugeriu adiar julgamento do mensalão
Segundo a revista “Veja”, Lula afirmou que teria o controle político da CPI do Cachoeira. Em troca do apoio do ministro para atrasar julgamento do mensalão, Lula teria oferecido blindagem nas investigações do Congresso.


Heloísa Torres Brasília

Em Brasília, a temperatura política subiu. Esta terça-feira (29) é um dia importante na CPI que investiga as relações entre o bicheiro Carlinhos Cachoeira e políticos. A CPI vai decidir se convoca três governadores e a construtora Delta. Mas o dia começa com o depoimento do senador Demóstenes Torres no Conselho de Ética do Senado.

Nesta segunda-feira (28), a oposição entrou com requerimento na Procuradoria Geral da República. Querem investigar o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva. Por causa do encontro dele com o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes em que teria sugerido que o mensalão fosse julgado só depois das eleições de outubro. Democratas, PSDB e PPS afirmam que o ex-presidente pode ter praticado três crimes: tráfico de influência, corrupção ativa e coação.

O PSDB dá como certo o depoimento do governador Marconi Perillo, de Goiás. “Esperamos que os demais partidos não joguem para baixo do tapete as denúncias que há em relação aos seus governadores”, afirma o deputado Bruno Araújo (PSDB-PE).

Já no PT, quando o assunto é a convocação do petista Agnelo Queiroz, governador do Distrito Federal: “vamos esperar a CPMI para vermos exatamente como vamos nos posicionar e analisar elementos de cada um dos governadores”, diz o senador Walter Pinheiro (PT-BA).

Para o PMDB, é desnecessária a convocação do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, pelo relacionamento dele com o ex-presidente da Delta. Outra votação prevista é a quebra de sigilo da matriz da empresa Delta, que tem vários contratos com o Governo Federal.

Mas o assunto que mobilizou o Congresso nessa segunda-feira foi outro: o encontro entre o ex-presidente Lula e o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. O tema: uma suposta blindagem do ministro na CPI em troca do adiamento do julgamento do mensalão.

Segundo reportagem da revista “Veja”, Lula afirmou que teria o controle político da CPI do Cachoeira. E em troca do apoio de Gilmar Mendes para atrasar o julgamento do mensalão, o ex-presidente teria oferecido blindagem ao ministro nas investigações do Congresso.

Lula perguntou a Gilmar sobre uma viagem a Berlim junto com o senador Demóstenes Torres. De acordo com a revista, há boatos de que a viagem teria sido paga por Carlos Cachoeira.

Nesta segunda-feira (28), o ministro do STF Gilmar Mendes disse que Lula considerava inconveniente o julgamento do mensalão agora, mas não confirmou que houve um pedido explícito para um adiamento: “ele não pediu a mim diretamente. Ele disse: ‘o ideal era que isso não fosse julgado’. Então, eu disse: ‘não, vamos torcer para que haja um julgamento objetivo’”.

Sobre a viagem com o senador Demóstenes Torres, o ministro disse: “eu não tenho nenhuma relação, a não se a relação de conhecimento e trabalho funcional, com o senador Demóstenes. Ele ficou um pouco assustado e disse: ‘mas não tem? E essa viagem de Berlim?’. E eu esclareci a viagem de Berlim, que era uma viagem que eu fizera a partir de uma atividade acadêmica que eu tivera na Universidade de Granada”, revela.

Por meio de nota, o presidente Lula disse que a reunião existiu, mas que a versão dada por “Veja” sobre o teor da conversa é inverídica. “Meu sentimento é de indignação”, disse o ex-presidente sobre a reportagem.

A nota segue afirmando que Lula jamais tentou interferir nas decisões do Supremo em relação ao mensalão e que nenhum dos oito ministros indicados por ele pode registrar qualquer tipo de pressão. Lula encerra dizendo que a autonomia e a independência do Judiciário sempre foram rigorosamente respeitados nos seus dois mandatos.

O ex-ministro Nelson Jobim presenciou a conversa. No fim de semana, negou que o conteúdo da conversa entre Gilmar e Lula tenha sido o que foi publicado por “Veja”. “Eu não vou falar mais sobre esse assunto, já está tudo encerrado, ponto”, disse nesta segunda-feira.

Partidos de oposição pediram ao Ministério Público que faça uma investigação. “Eu fiquei indignado e entendi que um ministro do Supremo jamais poderia ser alvo de uma provocação”, comentou o senador Agripino Maia (DEM-RN). “A oposição não é séria. Ela está está sem foco, sem projeto, sem estratégia e é descabida uma posição dessas”, comentou o deputado Jilmar Tatto (PT-SP).

Os ministros Dias Toffoli, Cármen Lúcia e Ricardo Lewandowski confirmaram que tiveram encontros com o ex-presidente Lula, mas negaram ter sofrido qualquer tipo pressão por parte dele.

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