Gilmar Mendes diz que Lula sugeriu adiar julgamento do
mensalão
Segundo a revista “Veja”, Lula afirmou que teria o controle político da CPI
do Cachoeira. Em troca do apoio do ministro para atrasar julgamento do
mensalão, Lula teria oferecido blindagem nas investigações do Congresso.
Heloísa Torres Brasília
Em Brasília, a temperatura política subiu. Esta terça-feira
(29) é um dia importante na CPI que investiga as relações entre o bicheiro
Carlinhos Cachoeira e políticos. A CPI vai decidir se convoca três
governadores e a construtora Delta. Mas o dia começa com o depoimento do
senador Demóstenes Torres no Conselho de Ética do Senado.
Nesta segunda-feira (28), a oposição entrou com requerimento
na Procuradoria Geral da República. Querem investigar o ex-presidente Luís
Inácio Lula da Silva. Por causa do encontro dele com o ministro do Supremo
Tribunal Federal Gilmar Mendes em que teria sugerido que o mensalão fosse
julgado só depois das eleições de outubro. Democratas, PSDB e PPS afirmam que
o ex-presidente pode ter praticado três crimes: tráfico de influência,
corrupção ativa e coação.
O PSDB dá como certo o depoimento do governador Marconi
Perillo, de Goiás. “Esperamos que os demais partidos não joguem para baixo do
tapete as denúncias que há em relação aos seus governadores”, afirma o
deputado Bruno Araújo (PSDB-PE).
Já no PT, quando o assunto é a convocação do petista Agnelo
Queiroz, governador do Distrito Federal: “vamos esperar a CPMI para vermos
exatamente como vamos nos posicionar e analisar elementos de cada um dos
governadores”, diz o senador Walter Pinheiro (PT-BA).
Para o PMDB, é desnecessária a convocação do governador do Rio
de Janeiro, Sérgio Cabral, pelo relacionamento dele com o ex-presidente da
Delta. Outra votação prevista é a quebra de sigilo da matriz da empresa
Delta, que tem vários contratos com o Governo Federal.
Mas o assunto que mobilizou o Congresso nessa segunda-feira
foi outro: o encontro entre o ex-presidente Lula e o ex-presidente do Supremo
Tribunal Federal, Gilmar Mendes. O tema: uma suposta blindagem do ministro na
CPI em troca do adiamento do julgamento do mensalão.
Segundo reportagem da revista “Veja”, Lula afirmou que teria o
controle político da CPI do Cachoeira. E em troca do apoio de Gilmar Mendes
para atrasar o julgamento do mensalão, o ex-presidente teria oferecido
blindagem ao ministro nas investigações do Congresso.
Lula perguntou a Gilmar sobre uma viagem
a Berlim junto com o senador Demóstenes Torres. De acordo com a revista, há
boatos de que a viagem teria sido paga por Carlos Cachoeira.
Nesta segunda-feira (28), o ministro do STF Gilmar Mendes
disse que Lula considerava inconveniente o julgamento do mensalão agora, mas
não confirmou que houve um pedido explícito para um adiamento: “ele não pediu
a mim diretamente. Ele disse: ‘o ideal era que isso não fosse julgado’.
Então, eu disse: ‘não, vamos torcer para que haja um julgamento objetivo’”.
Sobre a viagem com o senador Demóstenes Torres, o ministro
disse: “eu não tenho nenhuma relação, a não se a relação de conhecimento e
trabalho funcional, com o senador Demóstenes. Ele ficou um pouco assustado e
disse: ‘mas não tem? E essa viagem de Berlim?’. E eu esclareci a viagem de
Berlim, que era uma viagem que eu fizera a partir de uma atividade acadêmica
que eu tivera na Universidade de Granada”, revela.
Por meio de nota, o presidente Lula disse que a reunião
existiu, mas que a versão dada por “Veja” sobre o teor da conversa é
inverídica. “Meu sentimento é de indignação”, disse o ex-presidente sobre a
reportagem.
A nota segue afirmando que Lula jamais tentou interferir nas
decisões do Supremo em relação ao mensalão e que nenhum dos oito ministros
indicados por ele pode registrar qualquer tipo de pressão. Lula encerra
dizendo que a autonomia e a independência do Judiciário sempre foram
rigorosamente respeitados nos seus dois mandatos.
O ex-ministro Nelson Jobim presenciou a conversa. No fim
de semana, negou que o conteúdo da conversa entre Gilmar e Lula
tenha sido o que foi publicado por “Veja”. “Eu não vou falar mais sobre esse
assunto, já está tudo encerrado, ponto”, disse nesta segunda-feira.
Partidos de oposição pediram ao Ministério Público que faça
uma investigação. “Eu fiquei indignado e entendi que um ministro do Supremo
jamais poderia ser alvo de uma provocação”, comentou o senador Agripino Maia
(DEM-RN). “A oposição não é séria. Ela está está sem foco, sem projeto,
sem estratégia e é descabida uma posição dessas”, comentou o deputado Jilmar
Tatto (PT-SP).
Os ministros Dias Toffoli, Cármen Lúcia e Ricardo Lewandowski
confirmaram que tiveram encontros com o ex-presidente Lula, mas negaram ter
sofrido qualquer tipo pressão por parte dele. |
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